Hoje,
pesquisando em jornais antigos, me deparei com uma matéria incrível publicada
no Jornal Diário de Pernambuco de 03 de novembro de 1970.
A
matéria, do jornalista Adilson Cardoso, tinha o objetivo de noticiar a
construção da Represa Assis Chateaubriand, a nossa conhecida hoje Barragem da Sudene.
Na
ocasião da visita do reporte, foram entrevistados alguns moradores ilustres do município
do Ingá, entre eles: Dona Olindina Paiva,
proprietária, segundo ela própria, das
terras onde foi construída a Represa Assis Chateaubriand (A BARRAGEM DA SUDENE no Ingá), e o então
prefeito do município, Tibúrcio Valeriano de Oliveira.
A
entrevista rendeu assunto sobre seca, cangaço, origens do Ingá, modernidade,
entre outro assunto. Leiam abaixo, na integra a reportagem.
" E o povo ficou feliz com a reprêsa
Reportagem
de Adilson Cardoso
Fotos
de Murilo Guedes
Ingá -
O município do Ingá , um dos mais antigos da Paraíba, 30 mil habitantes, tem
agora a população feliz: Chegou água. Com apoio financeiro do Banco Nacional de
Habitação e da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (CAGEPA)a Prefeitura
Municipal conseguiu construir a Reprêsa “Assis Chateaubriand”.
Antigamente
Dona Olindina Paiva, com mais de 80 anos, era uma das poucas pessoas do Ingá
que tinha água o ano inteiro. Na sua casa grande, de móveis antigos, objetos de
prata e fotografias de artistas de óperas do século passado, no centro da sede
do município mantinha um reservatório de água das esparsas chuvas que caem sôbre
a região. Agora, o reservatório está fechado e ela já começa a utilizar água
encanada da Reprêsa “Assis Chateaubriand”
embora de vez em quando diga: “Não
acredito muito que isso dure”.
Cangaço
Ingá
Surgiu do distrito do Bacamarte que continua um lugar pequeno, com a sua igreja
e pouco mais de 10 casas. Já Tibúrcio Valeriano de Oliveira, o prefeito com seu
inseparável chapéu na cabeça, é um homem que se lembra de muita coisa. Até do
Cangaço.
Na
década de 20, Ingá do Bacamarte, como era conhecido, era lugar dos cangaceiros
mais famosos da Paraíba. Tinha José de Totô, Boca Rasgada Bianou, José Luiz e
tantos outros. E José de Totô, em certa ocasião, em uma das emboscadas, pegou o
pai de Dona Neusa agra de Oliveira, espôsa do atual prefeito, arrancou-lhe uma
orelha e um pedaço do nariz.
Mas,
essas histórias são coisas do passado, porque recentemente o governador João
Agripino, o ministro Costa Cavalcante, os representantes dos Diários e
emissoras Associados, os políticos, estiveram no Ingá para inaugurar a Reprêsa “Assis Chateaubriand”. E é a velha
senhora Dona Olindina quem diz: “Isso
aqui agora é outra coisa. Tem televisão do Recife, ônibus todos os dias e até
médico, juiz e promotor”.
Seca
Situado no agreste paraibano, já quase no
sertão, o Ingá é um dos municípios que sofrem com a seca. Vive só do algodão,
da criação de gado bovino e caprino e feijão, mas quando há inverno bom. Agora -
comenta o prefeito Tibúrcio Valeriano - tudo vai mudar, porque depois de
fornecer água para todo município, vamos irrigar tudo que é terra. Mas, Dona
Olindina continua falar: “Esses tais dos Engenheiros tomaram a Várzea da minha
terra para construir a Reprêsa “Assis Chateaubriand”. Ela, no entanto, continua
com uma fazenda com mais de 400 hectares.
A
secretária da prefeitura Dona Júlia Bezerra de Azevedo, sempre risonha vestida
de vermelho, conta como o povo conseguia a água em tempo de sêca: “Chegava o
trem trazendo água e toda a população ia com lata de querosene para Estação. Era
aquela gritaria, uma agonia infernal. Até em certa ocasião um homem findou ferindo
a faca uma senhora grávida por causa da água. Banho era coisa rara e toda a
gente economizava o que se podia chamar realmente “o precioso líquido”. Agora
não, tudo mudou, embora Dona Olindina Paiva, de cabelo azulado, tôda perfumada,
afirme que: “as meninas daqui estão virando tudo pelo avesso, pois as saias
estão cada vez mais curtas. Se isso fôr progresso é o fim do mundo”.
Os
doutores
A
médica do Ingá, Gildete Souto Cruz, recém-formada, toma conta da Maternidade. Mas,
como todo o médico do interior não pode se especializar, pois tem que ser de
parteiro a psiquiatra, não obstante ser este um nome feio para o lugar. E Dona
Olindina ressalta: “Credo, cruz esse negócio de psiquiatra é loucura”.
O
juiz, João Machado de Souza, nascido em Umbuzeiro, mora no Ingá, como também a
promotora, Geovan Hipólito da Silva, de João Pessoa. Crime agora é coisa rara,
no entanto, de vez em quando, surge uma briga por causa de terra ou por que
alguém falou mal da Amada do outro.
Já
Dona Olindina Paiva comenta: “Antigamente os doutores eram gente velha, mas
agora são esses moços, como as doutoras que vestem até calça de homem”. E
depois de uma pausa, recorda um comício de que participou o embaixador Assis
Chateaubriand - que passou a infância no município - que no meio do discurso
disse que ali tinha engatiado".(Diário
de Pernambuco terça-feira 3 de novembro de 1970 primeiro caderno pág. 10)
Muito bom
ResponderExcluirParabéns pela reportagem
ResponderExcluirMuito obrigado Diógenes Félix, para nós do Ingaense é uma satisfação tê-lo como leitor.
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