Nós do blog O
Ingaense iremos abordar nessa matéria, um assunto que durante muito tempo foi
silenciado pela história e pela sociedade ingaense. Talvez por vergonha,
preconceito ou pudor, mulheres tiveram os seus nomes riscados e seus rostos
apagados da história da história do lugar, porque era feio lembrar delas, falar
sobre elas!
Proferir
seus nomes era pecado!!!
Mulheres
como Maria Santa, Maria Borba e tantas outras que foram silenciadas e
repetidamente negadas da história...
Aqui,
nesse espaço, são lembradas, não apenas como prostitutas ou meretrizes... São
lembradas como mulheres, como pessoas que foram vitimadas pela violência e o
preconceito de seu tempo e que encontraram nas casas de danças ou casas de
recurso o único meio de sobreviver a intolerância, ao preconceito, a
mesquinharia e o desprezo da família e da sociedade.
Lembremos
aqui delas não apenas como Damas da noite, mas como meninas que tiveram a sua
hora arrancada, na maioria das vezes a força, e outras tantas entregues por
juras de amor e promessas de casamentos.
Corrompidas.
Dessoradas. Defloradas. Abandonadas pela família a própria sorte e a maldade do
mundo, a única forma de sobreviver e apagar a vergonha do corpo e da alma era
se tornarem prostitutas, quando pobres, ou enclausurassem em conventos quando
ricas. Longe do mundo...Fora do mundo... E a parte dele...
Aqui
no Ingá, lembremos de Maria Flor! Prostituta obrigada a ingerir soda caustica
por seus clientes e que sua família aceitou com comodidade, a causa de sua
morte, o fato dela ter chupado abacaxi no período menstrual.
Ressuscitemos
Maria Borba! Prostituta Dona de uma casa de dança, que hoje fica localizada em
frente ao campo do América, e que foi assassinada impunimente por seu amante
(um policial) porque ela estava dançando com um cliente.
Lembremos
de Maria Rosa, mulher da vida que foi assassinada quando fazia atendimento a um
soldado na delegacia do Ingá... Motivo da morte? Ele disse que ela estava chamando palavrões e
por isso ele a alvejou com três tiros...
Havia
um ditado popular entre as prostitutas sobre a indisponibilidade que elas nutriam
em manter relacionamentos amorosos com soldados de polícia. Entre as cidades de
Itabaiana e Ingá era comum as putas recitarem:
“
Mulher que ama soldado
Ama
cachorro também!
Cachorro
ainda tem rabo
Soldado
nem rabo tem!”
Esse
preconceito contra os soldados, por parte das Damas da noite, era justificado,
entre elas devido à falta de respeito e violência desmedida com a qual os
militares as tratavam!
Lembremos
aqui, que foi graças as prostitutas que moças de família, levaram consigo
intactas a sua pureza para o altar.
Lembremos
também que ninguém nasce prostituta, e se há prostituição é graças a uma
sociedade que diz que “ age de acordo com a moral e os bons costumes” quando na
verdade, patrocina a prostituição e contraditoriamente age como seu principal
opositor.
Nós do Blog O Ingaense, buscamos
mostrar aqui a imagem da prostituta como sujeito participe e vítima da sua própria
história. Seja por representar uma ameaça à ordem estabelecida pela sociedade
burguesa do século XIX, seja por se tornar, ou melhor. Ser colocada como alvo
da violência e do preconceito estabelecido por uma sociedade onde a conduta
moral de uma mulher ainda poderia ser medida pela quantidade de homens que ela
dormia.
Se dormir com vários homens no
passado era condição indicativa que levava a mulher a condição de Quenga, então
o que seria ser Quenga nos dias atuais?
Lembremos que julgar o passado a partir do presente, é cometer anacronismo!
Obs: Este texto foi escrito a partir de uma pesquisa de campo, a partir de entrevistas orais e documentos escritos. O que o Blog o Ingaense mostra é apenas uma pequena parte da pesquisa.
De forma poética vc nos aproxima da história muito bom esse texto. A pesquisa a campo com processos crimes realmente é fascinante
ResponderExcluirParabéns
Boa leitura. Parabéns
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