“Sempre que eu saia de casa pra algum
lugar,.. Mainha deixava o basculante com os vidros abertos para que eu pudesse
pegar a chave da casa, que de costume ela botava lá, e assim conseguisse entrar
sem acordar ninguém. Eu chegava, pegava chave e entrava em casa.
E, ai eu comecei a chegar de 3,4,5 horas
da manhã. A partir daí, ela passou a trancar o basculante.. Ela trancava pra
ver a hora que eu chegava. Foi nesse período em que eu comecei a chegar em casa
altas horas da madrugada, que surgiram boatos que eu estava andando com
M., com Edmer (Maíra)...que eu estava me envolvendo com homossexuais. Ai,
ela começou a cobrar de mim um horário de chegada. Foi nesse momento que eu
cheguei pra ela, porque eu não aguentava mais de tanta cobrança. Sempre era a
mesma coisa...
Nos dias de Domingo, a família toda se
reunia em volta da mesa pra almoçar (menos o meu pai que já tinha falecido). E,
como durante a semana, eu nunca participava destas reuniões porque chegava
muito tarde e dormia ate depois do almoço, Mainha aproveitava a minha presença
na mesa nos finais de semana para me interrogar: ‘ Porque ontem você chegou
tarde? Você estava com quem? Eu fiquei sabendo que você tava com Milica...’ Eu
já não aguentava mais aquilo.Todos os dias, a mesma coisa! Ai eu falei: Mainha!
A senhora quer saber de uma coisa? Eu sou gay!
Ela sabia mais não tinha certeza. As
vezes eu acho que ela tinha certeza, mais não queria aceitar a minha homossexualidade.
Quando eu joguei na cara da minha mãe
que era gay, tinha 15 anos. Eu não
aguentava mais tanta cobrança na minha cabeça. Lembro como se fosse hoje! Falei
pra ela: A senhora quer saber de uma coisa? Eu sou gay! Eu gosto de homem!Eu
não gosto de mulher. Nesse momento, Dudu, meu irmão se revoltou contra mim e me
acusou de querer matar a minha mãe , isso porque ela começou a ter um ataque
nervoso na mesa(tremendo e chorando). Eu me levantei da mesa, nem almocei nesse
dia. E falei pra ela:Você quer saber quem é o meu namorado? É fulano(disse o
nome do garoto), filho de sua amiga!Pois é Mainha! Ele é meu namorado.Ela quase
não aguenta a o que acabara de ouvir. Ai eu também comecei a chorar, me
levantei da mesa e me tranquei no quanto. Meu irmão queria me bater.
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ANTONIA DE SOUZA FRANÇA ( MÃE DE VIVIANE) |
Depois disso, ela me deixou mais a
vontade. Sempre me controlando,porem mesmo assim, mais solto que antes.
Quando eu completei 16 anos, foi na
época que eu terminei o ensino médio. E, ai eu me decidi em viajar para o Rio
de Janeiro. Quis viajar porque tinha medo da minha mãe sofrer. Isso, porque se
eu continuasse no Ingá, qual seria o meu futuro? Não desmerecendo ninguém, mas
seria como o futuro de tantos outros homossexuais que moram aqui no Ingá. Hoje eu tenho a minha
independência, sempre tive, porem hoje estou mais tranquila. Sou mais
realizada.Não dependo de ninguém! Hoje eu posso bater no peito e dizer que não
dependo de ninguém. Por isso eu quis sair do Ingá. Quando eu sai do Ingá, foi
fugindo de uma situação, pra não fazer minha mãe sofrer.
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