“Depois da primeira tentativa
frustrante de transar com mulher, eu não pude deixar de tentar novamente, não
que eu encontrasse prazer em fazer aquilo, mais pelo simples fato de provar
para mim mesmo que eu era capaz. Com a mesma menina da primeira vez frustrante,
cheguei a transar umas cinco vezes. Ela ficou louca por mim! Me dava
presentes..., eu chegava a transar com ela em troca de caixas de bombons da
Garoto, por perfumes do Boticário, por roupas.... Eu com as minhas dúvidas e
interessado nos presentes que ela me dava.
Eu a levava para minha casa, e
agente transava. Eu me excitava com a situação. Até que chegou ao ponto de um
dia eu falar para ela que não era aquilo que eu queria, eu gostava era mesmo de
homem. Na época eu transava com ela em troca de presentes e mantinha um caso
secreto com um garoto aqui do Ingá (hoje ele é casado e tem filhos). Quando eu
pus fim a esta situação, ela se desesperou, mais depois de muito tempo aceitou.
Apesar de continuar louca por mim.
Com o tempo, veio uma amiga minha
com a qual eu me envolvi. Neta muito cheia de fogo, muito fogosa! Tanto me
tentou que começamos a namorar. Nós fazíamos parte de uma mesma turma de amigos
e amigas. E, eu me envolvia na turma não pelas amigas, mas, por eles. Os
meninos desconfiavam que eu era viado, mais mesmo assim, me respeitavam. Eu só
tinha olhos para eles, elas pouco me interessavam.
Neta sabia que eu era gay, mas, mesmo
assim queria me mudar. Ela dizia: “não é assim! Você e homem! Eu posso te fazer
homem. E, a partir daí comecei a namorar com ela, mas não transamos. Gostei
dela. Gostei muito dela. Talvez tenha a amado!
Eu falei para ela que eu tinha um
caso com um garoto a muito tempo. Mais ela não ligou, já tinha se apaixonado
por mim! Quando nós íamos a pracinha e sentávamos no banco da praça para
namorar, os garotos que eu mantinha casos extras passavam por nós e comentavam:
‘Olha lá o viado namorando! E, eu falava para ela: você sabe que eu sou
viado! Ela pedia que eu não me
preocupasse. Ela sabia com quem eu me envolvia, de quem eu gostava. Eu contava
tudo para ela, e mesmo assim ela continuava comigo. Ela era apaixonada! Mesmo
sabendo de tudo, ela continuava comigo na esperança de me mudar.
Como homem, eu não me achava bonito.
Me achava esquisito. As pessoas comentavam que eu era bonito.
Relacionamento com mulheres? Eu tive
três. Dessas três, transei apenas com uma. Pro momento foi uma sensação boa. Mais
não era aquilo que eu queria! No dia seguinte a transa eu me sentia ridículo!
Tive nojo de mim! Me senti ridículo por ter transado com uma pessoa que não era
com quem eu gostaria de estar e de como estar. Mas, apesar de tudo, com o tempo
eu me senti bem porque eu provei do outro lado e vi que aquilo eu não queria,
disto eu tive certeza. Antes de transar com mulher, eu já sabia que era gay,
mais eu queria me mudar. Eu queria me esconder, me enganar. E o que me forçava
agir dessa forma era a sociedade Ingaense, a minha família, a religião. A minha
mãe e muito religiosa.
Eu me sentia perdida e procurava um
caminho certo. Eu na verdade já sabia qual caminho tomar. Mas o que parecia
certo para mim, para as outras pessoas era feio, errado, inaceitável. Por tudo
isso, eu era forçado a passar para as pessoas uma coisa que eu não era, mesmo
que isso significasse pisar em mim e nas minhas vontades.
Eu desejava os homens! Desejava
todos os homens que de alguma forma eu me relacionava. Só tinha olhos para
homens.
Eu ficava na maior saia justa quando
precisava ir ao banheiro masculino (na escola ou em qualquer lugar). Eu me
sentia acuado, ameaçado, com aqueles homens urinando, com seus pênis enormes
saindo pela braguilha das calças...muito forçadamente, eu desviava o olhar e
saia do banheiro. O meu desejo era continuar naquele lugar que me punha medo e
ao mesmo tempo tanto me excitava. No entanto, eu tinha medo que alguém
percebesse e me fizesse assumir uma posição sexual, que na realidade eu, ainda
não estava pronta a aceitar.
Dentro de toda essa confusão
sentimental, estavam as minhas duas namoradas. Ao mesmo tempo, eu namorei
Camila e Neta. Até hoje eu me questiono o porquê que me levou a fazer isso.
Apesar de namorar as duas, eu nunca
deixei de ficar com homens. Já tinha um homem certo para ficar. Eu não gostava
dessa situação. Tudo aquilo me fazia muito mal. No entanto, apesar de tudo,
para mim a situação tornou-se cômoda. A parti daí, passei a usa-la como
pretexto para esconder a minha homossexualidade e, do mesmo modo calar a boca
das pessoas que me chamavam de viado. Ora! Se eu era gay, então porque tinha
duas namoradas?
O garoto que eu tinha um caso na
época, sabia das duas e me ajudava a suportar aquela situação. Ele é homem!
Hoje é casado e tem filhos. Ele falava: ‘Não! Para mim tudo bem! Pelo menos as
pessoas não irão saber de nós. Jamais irão descobrir! Eu acho isso legal. Ele
aceitava numa boa, mais eu não consegui suportar por muito tempo e terminei o
relacionamento com as duas. Consegui falar a verdade para elas sobre a minha
sexualidade, e pus fim ao martírio. Eu lembro que isso aconteceu alguns dias
depois da morte de meu pai.
Eu falei para elas que gostava das
duas, mas não como mulher. Expliquei para elas que o motivo que me prendia
aquela situação não existia mais. Estava morto, que era o meu pai. Então, não
tinha mais sentido levar aquela situação adiante porque eu já tinha escolhido o
caminho a percorrer, e, elas não estavam incluídas nele. não como mulher!
Porque, agora eu sabia –sempre soube – o que eu queria, o que eu era. E pela
primeira vez, eu me senti forte, sem medo, e, totalmente livre para buscar a
minha felicidade.”
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