Na escola aprendemos lições que levamos para vida
toda. É nela que passamos uma boa parte de nossa infância, por isso ela assume
um caráter de segundo lar. É nela que conhecemos nossos primeiros amigos e
passamos a vê-la não apenas como lugar de obrigações, mas principalmente como
espaço de sociabilidade e lazer. Desde modo, a criança vai à escola não só para
aprender os conteúdos que disciplinas como historia e matemática tem a lhe
ensinar. Mas, principalmente, é necessário que ela freqüente este espaço como
forma de interagir com outras de sua idade e, deste modo possa se desenvolver
como ser humano. O espaço de sociabilidade que a escola possibilita para o
desenvolvimento da criança, é muito importante para que ela cresça e se
transforme num adulto capaz de desenvolver suas competências e habilidades de
forma plena e completa. Para isso, é necessário que haja uma interação entre
duas instituições extremamente importantes dentro deste processo formativo, que
é a família e a escola.
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Viviane de Souza |
É importante também que se perceba a legitimidade de
outros lugares sociais como formadores da personalidade infantil. Apesar da
escola e a família serem os principais espaços de convivência da criança, é
crucial que outros espaços como a igreja, a rua e tantos outros tomem parte
nesse processo educativo.E, que sejam considerados tão importante como os
outros espaços.
O que eu estou tentando fazer aqui é chamar a atenção
dos educadores para que estes percebam a diferença nos seus alunos e, deste
modo possam construir na sala de aula um ambiente de harmonia, onde as
diferenças possam ser vivenciadas não como defeitos a serem corrigidos, mas como
pesas pertencentes a um jogo. Pesas que se completam e que dão a diferença, um
lugar especial nesse labirinto da vida. Devemos, como educadores conscientizar
os nossos alunos que a diferença faz parte da vida, e não é por alguém gostar
ou fazer coisas que não concordamos, que ele não pode ter o nosso respeito ou
nossa amizade. Devemos lembrar, também que o preconceito, ao mesmo tempo que
fere alguém se torna alvo dele, identifica o ser preconceituoso como: atrasado,
intolerante e criminoso, já que discriminar alguém por sua cor, sexualidade ou
nacionalidade é crime.
Na maioria dos casos, as pessoas alvo de preconceito
se tornam fechadas, amedrontadas e forçadas a se excluírem do espaço ou de
grupos que se encontram. Este foi o caso de Elinaldo, ainda na infância, que
por se sentir diferente, se retrai para que as pessoas não notassem a sua
diferença, e deste modo não viesse sofre discriminação.
“Quando comecei a cursar a quarta série primária, eu
tinha dez anos de idade. Ai eu já entendia melhor as coisas que aconteciam
comigo.
Eu sempre fui muito quieto (na minha), não tinha
muitos amigos, não falava com ninguém. Ia pra escola, estudava e voltava pra
casa.
Tinha vergonha de falar para que as pessoas não
percebessem que eu era gay. Eu reprimia ate a fala. Mas dentro de mim! Eu já
sabia que não era igual aos outros meninos. As pessoas me forçavam a perceber
isto. Eu observava que os outros meninos da minha idade adoravam futebol, já
tinham suas malicias em relação a mulher! Eu não.
Eu detestava ver aquela coisa: homem correndo atrás
de bola? Eu não via sentido naquilo. E daí! Começavam a me sentir diferente dos
outros e isso fazia com que eu me reprimisse cada vez mais. Eu não saia... não
aproveitei esse período da minha vida. Só comecei a curtir a vida a partir dos
14, 15 anos, que foi a época que fui embora..., que comecei a sair! ...
No ano de 1990, quando eu comecei a estudo no Colégio
Professor Rangel. Eu achava que todos sabiam que eu era gay, e os que não
sabiam, desconfiavam, ou esperavam que um dia eu viesse a ser. O Júnior
implicava muito comigo! A Jane !? Eu morria de medo da Jane. Ela tinha uma boca
que a língua não cabia dentro dela! Ela só falava gritando...E eu..., Nossa
Senhora! Como eu sofria naquele Rangel.
O período que eu estudei no colégio professor Rangel
foi um tempo gostoso.O problema é que eu não me enturmava por medo. Eu não
queria que ninguém soubesse que eu era viado. A minha realidade era essa: eu
não me aceitava, eu não me assumia por medo.
Hoje é diferente! Agente vê um garoto de 14 anos se
requebrando..., e foda-se o resto!
Na minha época tinha poucos viados declarados aqui no
Ingá! Pessoas que eu não me envolvia por não querer dar desgosto ao meu pai e
aminha mãe.
Foi no período que eu estudei no Rangel (de 1990 a
1993), que eu comecei a me aceitar, a entender mais das coisas e não me
envergonhar daquilo que estava acontecendo comigo.
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Elinaldo de Souza França em gincana na praça Antenor Navarro, no Ingá em 1990. |
No ano de 1994, fui estudar em campina Grande no
colégio Estadual da Prata.Foi nesse período que eu tive um relacionamento com
um garoto.Mas ninguém desconfiava porque eu fazia as minhas coisas muito
escondidas. Eu me lembro disso porque ele era meu vizinho, e por ter sido mais
que uma brincadeira.
Ainda no colégio Professor Rangel. Eu lembro das
aulas de educação física do professor Edílson (sétima série), e do professor
Abraão (oitava série). Esses momentos, para mim era os piores, porque era ali
que a turma se dividia: de um lado as meninas; do outro os meninos.
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Viviane de Souza, ainda como Elinaldo de Souza França no colégio estadual da Prata em Campina Grande no ano de 1994 |
Os meninos iam jogar futebol, correr no campo, chutar
a bola um para outro(...)
As meninas jogavam queimada, pulavam corda, brincavam
de bambolé! E eu! Ficava sentado no meu lugar. Sempre olhando sem participar.
Ficava sempre de fora, excluído
Uma vez eu participei do futebol. A experiência foi
horrível!!!!! Deus me livre e guarde! Nunca mais na minha vida eu quis repetir
a experiência. Eu só fazia correr! Um dos meus colegas que era muito peludo,
corria para lá, para cá..., encostava em mim! ...eu achava aquilo horrível,
nojento... eu não queria fazer aquilo ali! Aí eu saia do jogo. Deste modo, eu
não participava dos jogos dos meninos porque não me sentia a vontade, nem das
brincadeiras das meninas justamente para ninguém falar. No entanto, por dentro,
eu ficava louca de vontade de esta ali no meio delas jogando queimada, sendo
feliz”
Parabéns linda historia
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