Por: Alexandre Ferreira
APRESENTAÇÃO
Em uma das
missas dominicais, tradicionalmente realizadas na Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Conceição, na Cidade de Ingá. O Padre chama a atenção dos fieis para
um comunicado, e, ao mesmo tempo agradece pelo presente –caríssimo – que a
igreja acabara de receber. Tratava-se de um ostensório doado por um de seus
“paroquianos”, que naquele momento encontrava-se na Itália e mandara de lá o
santíssimo como presente para a igreja de sua cidade natal.
Em seguida, o
padre convida a Mãe do bem-feitor (a) para que ela se pronuncie em nome do
filho (a) que estar ausente.
Dona Maria
muito emocionada! Nervosa e, aparentemente feliz pela situação que acabara de
passar, explica para os presentes que aquele objeto religioso foi doado de
coração pelo seu filho André, que já não era mais filho, e sim filha. Pois
agora se chamava Liliane.
Muito
emocionada diz que apesar disso lhe causar desgosto e estranhamento. Ela
continuava lhe amando.Diz ainda que com a transformação de Andrezinho em
Liliane. Ela perdeu um filho. No entanto, em compensação ganhou uma filha linda
e dedicada como nunca sonhara em ter.
Emocionada ao
som dos aplausos da multidão. Dona Maria volta ao seu acento cativo em uma das primeiras
fileiras dos bancos da igreja, aliviada e feliz pela aceitação que o presente de
seu filho, ou melhor, de sua filha, teve naquele momento perante a sociedade
ingaense e a igreja católica local. Naquele momento Liliane passa a existir
“oficialmente”se considerarmos que aquele ato de agradecimento do padre e o
discurso emocionado de sua mãe. Foi uma apresentação oficial de sua nova filha
a sociedade, ou seja, um debute.
Este
fato aconteceu em 2005, por ocasião dos festejos do mês de maio em louvor a
Maria, mãe de Jesus.
Ao tomar
conhecimento do fato, eu pensei: Preciso
relatar isso! Não por envolver um travesti que presenteia a igreja católica com
a doação de um objeto religioso. Mas pelo caráter que assumia aquela doação
diante de toda a sociedade e a instituição católica.
Foi a partir
daí que decidi escrever sobre Liliane. Mais como fazer isso se ela se
encontrava na Itália? Como fazer para falar com ela sem que a família tomasse
conhecimento, e desse modo não aceitasse a proposta que eu tinha a lhe fazer?
Foi aí que me ocorreu a idéia de procurar uma amiga em comum nossa. Paulinha que mantinha contato freqüente
com Liliane por telefone na Itália
conversou com ela. Falou de minha proposta. E nos marcamos para conversamos
sobre o assunto. Eu não mantive muitas expectativas em relação a aceitação de Valdo em concordar com aquilo que eu
lhe propunha.
Até que chegou
a oportunidade de conversamos. E, ai Ele me disse que estava muito feliz por eu
ter me disposto a escrever sobre ele, mas que tinha um porém: que não gostaria
que fosse vulgaridades. Que sabia sim, que o mundo de travestis era podre, que
tinha muita inveja, coisas sujas.... Porém. No entanto aquelas coisas não
faziam parte dele. Uma outra coisa que ele me pediu foi para não esconder da
sua mãe essa proposta, pois em sua vida, ela estava a par de tudo. Aí, eu
percebi que apesar das mudanças ocorridas na vida de Valdo. Ele continuava, por
dentro aquela mesma pessoa frágil, dependente do amor da mãe e, ainda,
extremamente carinhoso com as pessoas que o rodeava.
Nos despedimos,
e marcamos as entrevistas para o momento de sua volta ao Ingá, que ocorreria no
mês de novembro de 2005.
continua.....
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