Em
1996, ano em que ingressei na Universidade Federal da Paraíba como acadêmico no
curso de História, ela estava concluindo o curso. Pessoa humana de um caráter excepcional,
amigável e sempre disposta a ajudar o próximo.
Na
época, muito matuto e ainda procurando me encontrar dentro do curso, lembro-me
que ela por uma ou duas vezes me ajudou a montar o cronograma de disciplinas
que eu precisaria cursar no período (s).
Lembro-me
ainda que foi ela que me indicou para lecionar história (minhas primeiras
turmas) na escola Luiz Gonzaga Burity no ano de 2000.
Sempre
tive e mantenho o maior respeito e carinho por ela!
Grande
mãe. Esposa zelosa e honrada. Excelente professora e historiadora, e... UMA DAS
TRES ALMAS MAIS ILUMINADAS que conheci nesse mundo (acho que já falei isso pra
ela rsrsr)
Por
esses e diversos outros motivos que só a engrandece, a coluna GENTE do Blog O
INGAENSE, vem homenagear esta semana a Historiadora Ingaense, JOSELMA
NASCIMENTO, por suas contribuições na escrita e na pesquisa da história do
nosso município.
A
você! Minha amiga, minha irmã, minha colega... NOSSO MUITO OBRIGADO!
Segue
abaixo um resumo da pesquisa da professora (Especialista em História pela UEPB)
Joselma Nascimento, onde ela resgata a história do Clube “A União Cultural
Ingaense”.
BOA
LEITURA!
VELHOS
TEMPOS, VELHOS DIAS: ERA DE GLAMOUR NO CLUBE UNIÃO CULTURAL INGAENSE
Joselma Nascimento
1. Um debate sobre a História Cultural
O estudo
da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo
e da história, relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora
em transbordamento. (LÊ GOFF, 1996, p.426)
Uma das temáticas mais debatidas
e trabalhadas na “Nova História” ou “História Cultural” é a memória que antes
era encarada como uma fonte de pesquisa não confiável, inválida, sem nenhuma
credibilidade.
Isso porque a historiografia
mundial e inclusive a brasileira até o final dos anos de 1980 era até então
denominada por uma postura marxista de entendimento da história. Em princípio
podemos dizer que forma duas as posições interpretativas da história
criticadas: o marxismo e a corrente de Annales, sendo que a partir dessas duas
correntes, que veio o impulso de renovação, resultando na abertura desta nova
corrente historiográfica a que chamamos de História Cultural ou mesmo de nova
História Cultural.
A partir dessa nova perspectiva
de pesquisa histórica, o modo de estudar e analisar a História foi sendo
revista e reelaborada, pois a História era o resultado de uma interrogação,
feita pelo historiador, de uma escolha e de uma organização de dados, intrigas,
mentalidades e representações feitas pelo historiador a partir de suas
análises.
A preservação do patrimônio é vista
hoje, como uma questão de cidadania e, como tal, interessa a todos por se
construir em direito fundamental do cidadão e o esteio para a construção da
identidade cultural, isso porque em grande parte hoje, preservar um bem
cultural deve-se não só pelo seu valor estético, arquitetônico ou histórico,
ele é preservado se tem significados para a comunidade possibilitando melhoria
da qualidade de vida e de seus moradores e contribui para construção de sua
identidade cultural e o exercício da cidadania.
Consequentemente, com a
preservação do patrimônio cultural é que a sociedade ou uma nação vai
construindo e solidificando a sua identidade cultural, para as gerações futuras
continuarem com bases históricas e culturais enraizadas.
Portanto, foi a partir dessas novas
visões historiográficas e a nossa preocupação em resgatar um pouco da história
social e suas representações populares juntamente com o uso da memória coletiva
e a preservação da mesma que tivemos o desejo de trabalhar a representação
popular sobre o Clube União Cultural da cidade do Ingá – PB.
2. – Um Retrato do Clube
Foi justamente no dia 22 de janeiro
de 1949, que o sonho da sociedade ingaense estava começando a se tornar
realidade. O Clube União Cultural Ingaense estava se tornando uma associação
civil com duração indeterminada, destinada a proporcionar a seus membros toda a
diversão como conferências literárias, jogos de salão, partidas esportivas e
toda espécie de divertimento que tinha como base a boa moral.
O clube era todo estruturado por
membros da elite social ingaense cuja diretoria era composta por nove membros
eleitos por dois anos. Seus membros que deveriam ter uma conduta moral
exemplar. O número de sócios ilimitado nas seguintes categorias: proprietários
de terras; funcionários efetivos e comerciantes.
De acordo com o estatuto do
Registro de Títulos e Documentos no capítulo II (dos sócios e suas classes) no
art. 6º e Art 9º:
Os
proprietários são os que subscrevem e integralizarem de duas até quatro cotas no
valor de C$ 500,00 cada um correspondentes a um título; o sócio efetivo é o que
pagava uma jóia de C$ 50,00 e a mensalidade de C$ 10,00, não teria direito a
voto e sujeito as penalidades e exigências estabelecida neste Estatuto mas tem
o direito ao ingresso franco na sede da sociedade e a tomar parte em todas as
festividades promovidas pela mesma como também nas competições desportivas.
Os sócios
comerciários (comerciantes) aqueles que sendo do quadro social, prestarem a
sociedade serviços preponderantes a juízo da Assembléia Geral (Cap. II,
pp.94-95).
A diretoria do clube era composta
de presidente, vice-presidente, 1º e 2º secretário, diretor social,
tesoureiros, vice-tesoureiro, orador e vice-orador. Essa diretoria teria que se
reunir até o dia cinco (05) de cada mês anterior e tomar decisões de interesse
do Clube.
O presidente do Clube tinha toda
competência como: presidir sessões da Diretoria e superintender os serviços
internos e organizar outras decisões, assinar as atas de todas as reuniões.
A partir de toda essa estrutura,
existia também uma comissão de contas que era eleita juntamente com a Diretoria
e era composta por três membros para dar o parecer sobre os balanços e estados
das contas a serem apresentadas, anualmente em assembléia geral.
Era nessas assembléias gerais que
os sócios proprietários, efetivos e comerciantes tinham o poder supremo de
resolver todos os atos ou casos em última instância, sendo constituídas pelos
sócios em pleno gozo de seus direitos.
Os sócios que, por algum motivo,
infringissem os artigos do Estatuto e qualquer regulamento e quaisquer
deliberações da Diretoria seriam punidos com advertência, suspensão ou
eliminação de sócio.
Nossa!
Naquela época só poderia entrar no clube maiores de 14 anos e junto com os pais
para participarem dos bailes que o clube oferecia.
(Depoimento
de uma moradora e filha de um antigo sócio – proprietário – Dona Miriam)
Ou seja, podemos perceber que os
sócios proprietários tinha que seguir a várias regras que a Diretoria do Clube
oferecia e uma delas era só a entrada de adolescentes a partir de 14 anos
acompanhados dos pais. Menor de idade não tinha oportunidade a não ser que
fosse em matinês de carnaval oferecidas e organizadas pelas esposas dos sócios
proprietários que realizavam nos turnos da tarde.
No art. 80 do estatuto p. 97
temos:
É
absolutamente proibida a entrada dos filhos. Menores dos sócios de qualquer
categoria nos salões da sociedade a não ser nas festividades que lhes forem
oferecidas sempre que possível a Diretoria do Departamento Feminino organizará
festivais infantis destinados aos filhos menores dos associados, dentro das
normas estabelecidas pelo código de menores.
Os sócios tinham vários deveres e
um deles era zelar pelo estabelecimento, prédio, o Estatuto, apresentação de
recibos de quitações e acatarem as decisões do Presidente realizada em
Assembléia.
O primeiro momento do
funcionamento do Clube até a sua inauguração oficial passou por uma gestão de
Diretoria Provisória, mas que teve seu final no dia 05/03/1950 cujo momento foi
empossada imediatamente a diretoria efetiva e teria seu encerramento em
31/12/1951.
A comissão dessa diretoria foi
formada por:
Rômulo Romero Rangel
Presidente Interino – Severino
Alves da Rocha
Relator: Elvino T. do Rego
Membro: Raminho Romero Rangel
Presidente: Severino Alves da
Rocha
Vice-Presidente: Euclides Cabral
de Melo
1º Secretário: Francisco Monteiro
Dantas
2º Secretário: Elvim T. do Rego
Diretor Social: Manoel Henrique
Filho
Tesoureiro: José Rodrigues da
Silva
Vice – Tesoureiro: Euclides
Garcia
Orador: Nelson Figueiredo
Vice-Orador: Gesson Alves Peixoto
Manoel
Ferreira Leal
Demais Sócios ilustres:
José Dias Pereira, Tibúrcio
Valeriano de Oliveira, Bernardino de Souza Monteiro, Manoel Travassos da Luz, Silvio Caxias, João
Alves Trigueiro. Olinto de Manoel Farias, José Sinval da Silva, José Claudino
da Silva, Severina Lima, Augusto Higino de Melo, Luiz José de Santos, Heráclito
Rodrigues de Ataíde, José Rezende Pereira, Francisco Ernesto de Andrade,
Gabriel Tavares Bezerra, Austênio da Silva Filho, João Gaulberto Gonçalves,
Ascendius Batista da Luz, Severino Dias Correia, Lucenildo José de Arruda e
Euclides Magno Bacalhau.
Todos os sócios citados faziam
parte de uma elite agrária municipal muito respeitada por todos e, por isso,
conseguiram erguer e fazer funcionar um dos clubes que mais se destacou em
organização, festas, torneios e apresentações de bandas já vistos nesta região.
Realizamos esta pesquisa na
cidade de Ingá – PB, buscando os moradores ingaenses que vivenciaram um pouco o
funcionamento e a falência do Clube União Cultural Ingaense como um Patrimônio
Cultural do município.
Foi com a oralidade que visamos
buscar a significação em cada um as lembranças de suas próprias vidas, de
episódios vividos e marcantes no clube, como fica bem claro nessas flas:
“As
lembranças são diversas, mas com o tempo tudo passa e dificilmente, o que
passou pode ser vivido. Tempos atrás tudo era diferente. O romantismo
completava tudo, até mesmo nas construções havia um toque de romantismo, dando
um certo encanto aquela bela época.” (Moradora e escritora Maria de Jesus
Pinto).
“Era o
prédio mais bonito que existia e as festas mais organizadas lá. Eu freqüentava
acompanhada dos meus pais, pois lá só entrava os sócios proprietários e seus
filhos e quando um amigo vinha de “fora” só entrava acompanhado com o sócio
proprietário.” (Professora Miriam).
“Todas as
festas marcaram não só a mim, mas toda a sociedade ingaense, mas o destaque é
para o lançamento da primeira Festa das Rosas no ano de 1969.” (Professor Ivanildo).
A partir desse trabalho de
pesquisa com base na oralidade, podemos examinar em nossas conversas um ar de
saudosista mas também de decepções com o poder público de não mais ter o
funcionamento do Clube como era antes porque agora está na guarda da Prefeitura
Municipal, como fica bem claro nessas falas:
“A
utilização do Clube hoje é péssima, isto é, se é que está sendo utilizado,
transformou-se em central de velório (Professor Ivanildo)
“Hoje
infelizmente as barracas que cercam a frente do clube matou a sua beleza, da
mesma maneira que está sendo a sua utilização.” (Miriam da Luz).
Sabemos que este estudo não tem a
pretensão de retratar a “verdadeira” história social do município e da fundação
do Clube União Cultural Ingaense, mas tenta contribuir para a formação de nova
consciência de preservação dos nossos bens culturais, tentando promover um
debate sobre várias questões acerca de patrimônio e memória, que está aberto a
críticas e novas propostas de análises e pesquisas.
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