Quando
nós falamos em carnaval no Brasil, nos deparamos com uma multiplicidade de
representações ritos, cantos, danças, mitos, imaginário... e, indubitavelmente
nos impregna de cultura.
Apesar
de ter as suas origens na cultura judaico-cristã, o carnaval nos trópicos,
especialmente no Brasil, assume características ímpares e singulares. Basta
lembrar do samba do Rio de Janeiro, do boi garantido e do caprichoso em Parintins-AM,
do samba de crioula, no Estado do Maranhão, do frevo e do caboclo de lança, no
Pernambuco-PE.
No Ingá-PB, podemos apontar como as
primeiras manifestações carnavalescas da Vila, a presença do rito e da
musicalidade advinda da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, existente na
Vila do Imperador desde o ano de 1855. Era dessa irmandade que nasceu os cantos
e os gingados do carnaval do Ingaense.![]() |
As
vozerias, as cantilenas, os batuques, os entrudos eram características musicais
dos negros irmãos de N.S do Rosário. De início, a música servia apenas para
animar as cerimônias religiosas tais como casamentos e funerais. No entanto, com
o passar do tempo, a música que antes assumia um papel de sagrado, agora
alegrava o profano.
Da transição do Império para a
República no Brasil, as vozes que se ouviam, os cantos que embalavam as danças
e os ritos eram oriundos da gente da África. Até porque em uma sociedade onde
os espaços de lazer privados eram praticamente inexistentes, pular na rua, se
melar com farinha ou lama era coisa de camumbembe, de mundiça, de negro ou
escravo.
No
Ingá da primeira metade do século XX, o carnaval vai se popularizar e se
elitizar, a partir do surgimento de várias bandas marciais. De acordo com
Zilneide Barros Matias, “em Ingá, as bandas marciais existem desde o final
do século XIX. As primeiras foram à banda Maria Luiza e a Joana Cabral”.
Foi a
partir do surgimento das bandas marciais que ouve uma verdadeira revolução na
história dos carnavais do Ingá.
De acordo com entrevista realizada com o senhor
José Lira, em 2013, os Armazéns dos Borba e dos Mota, eram
responsáveis por custear e divulgar o carnaval aqui no Ingá na década de 1940.
Nesse período o carnaval do Ingá era conhecido em toda a região.
A
nossa orquestra era uma das maiores e melhores de todo o Estado da Paraíba. Nos
anos em que o carnaval era sucesso e mostrava todo o esplendor de uma
sociedade, a banda marcial era o seu principal instrumento. Regida pelo maestro
Cazuzinha, a Banda 31 de março fazia sucesso inclusive em estados vizinhos,
ganhando dois concursos de banda (em 1° lugar), na cidade do Recife-PE.
No carnaval do Ingá
da década de 1940 e anos posteriores, a Banda 31 de março era o combustível que
movia os principais blocos da cidade. Dos quais podemos citar: Os Caboclinhos,
os Marinheiros, o Silencioso e o Beija-flor.![]() |
Figura 2: Banda 31 de marco, fundada em 31 de março de 1933,
pelo maestro Cazuzinha.
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Cada
um desses blocos possuía uma sede e tinha como responsável alguém que ficava a
frente da organização.
O
Bloco Silencioso tinha como Responsável José Luiz de
Souza, comerciante local, proprietário de uma famosa Padaria (esse senhor era
pai de Dona Rizomar, mãe do ex-prefeito do Ingá, Carlos Mendonça).
O
Bloco do Beija-Flor era dirigido por um carnavalesco
nato (Acurso). Este senhor já de idade, se diferenciava dos demais
participantes pela alegria e extravagância com que brincava o carnaval.
O
Bloco dos Caboclinhos era dirigido por Harnold. Ele tinha
como profissão, motorista aqui no Ingá. Trabalhava no Recife, mas com o tempo
passou a trabalhar de vez aqui no Ingá.
Por
último, mas não menos importante, o Bloco dos Marinheiros era custeado
pelo armazém de Seu Mota.
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Figura 3: Foliãs em frente ao antigo clube do município do
Ingá-PB.
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O Clube era ali onde ficava a Casa de seu Manoel Cândido, onde hoje se
localiza a Ótica Morumbi. A rua do Rosário (atual rua presidente João Pessoa),
no período de Carnaval era entre os Mota e os Borba.
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Figura 4: antiga rua do Rosário, espaço onde acontecia os
desfiles de blocos de carnaval,
onde também era situado o clube local, hoje Rua
Presidente João Pessoa.
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No
final de cada dia de carnaval, o chão da rua ficava forrado por mais de um
palmo de confetes e serpentinas e lança perfume.
Quando
a orquestra tocava ninguém ficava parado.
Nos
primeiros anos da década de 1950 até meados da década de 1980, o Carnaval era
um dos eventos mais comemorados dentre as festas realizadas no Clube A União
Cultural Ingaense. Neste momento a elite se reunia para festejar esta data com
muita alegria regada a lança perfume e fantasias coloridas acompanhadas por
confetes e serpentinas.
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Figura 5: Clube União Cultural Ingaense, em 1950.
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Antes da
fundação do Clube União Cultural Ingaense, a sociedade comemorava o Carnaval
em blocos que saia pelas ruas do Ingá, animado pela música das bandas marciais
do lugar, entre elas a Banda 31 de Março, as moças se divertiam ao som das
bandas... extasiadas de lança perfume.
Nas décadas de 1980,
1990, até os dias atuais, são os poucos ursos, catirinas e bois bumbas que
ainda sobrevivem na cidade.
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Figura 6: o Boi, a burrinha e os caboclinhos de seu Mario
Boi, no carnaval de 1979.
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No
governo municipal do ex-prefeito Antônio de Miranda Burity, o carnaval
municipal, defendia como tema principal, o Carnaval “Abre Alas”, se destacando por valorizar os
Caboclinhos, Boi Bumba, Ala Ursa, bem como procurar despertar na população a
valorização das marchinhas de carnaval.
Na década
de 1995, como proposta alternativa de brincar o carnaval com familiares e
amigos, surge o BLOCO JACAREMA, o qual este ano está completando 22 anos de existência.
Bem mais
recente, porém embasado com a mesma euforia carnavalesca, surge na segunda década
do ano 2000, o BLOCO AZULÃO, idealizado pelo então prefeito Manoel da Lenha.
Além
desses blocos que já fazem parte da história carnavalesca do Ingá, com o
decorrer do tempo, foram surgindo outros blocos tais como O RISCA FACA, o BLOCO STYLO MANIA, o bloco católico carismático MAGNIFICAT.
O bom de
todas essas inovações, são as opções que o folião ingaense dispõe para brincar
o Carnaval.
Viva ao
carnaval!
Viva corte do Rei MOMO e das Arlequinas!!
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Figura
7: Bloco O Azulão, fundado pelo atual prefeito do Ingá,
Manoel da Lenha,
Foto: ingaflashvip
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Figura 10: cartaz do bloco Magnificat. |
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Figura 11: foto atual do Clube União Cultural Ingaense. |
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Figura 9: Ótica Morumbi, local onde no passado (1940),
funcionou o primeiro clube do Ingá.
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Interessante,na rua que moro tb tem o bloco os Meladinhos do Big Bar.
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